Sinopse
A publicação do livro Eu, em 1912, causou estranheza e uma certa repugnância entre os raros críticos que se dispuseram a ler o volume. Leitor do naturalista e fisiologista Darwin, o homem da teoria das espécies, e do biólogo Haeckel, teórico do transformismo, Augusto dos Anjos apresentava ao leitor, sem qualquer cerimônia, em versos contundentes e incômodos, por vezes irados, ideias, conceitos e o vocabulário específico das especialidades desses cientistas, ordenados sob a visão pessimista do filósofo Schopenhauer. Sem compreender muito bem o que lia, o leitor se deparava com termos como monera, citula, zoófito, e expressões insólitas. O mais chocante, porém, era o gosto do autor pelos aspectos repugnantes da vida, no plano físico e moral.
Desde o primeiro poema do livro, "Monólogo de uma Sombra", o autor esclarecia que "a podridão me serve de Evangelho.../ Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques". Por trás dos versos ásperos, da linguagem um tanto pedantesca, da tristeza dilacerante e incômoda do poeta, havia no entanto uma visão original da vida. Comovido e perplexo diante do espetáculo imenso do cosmo, em contraste com a realidade mesquinha do cotidiano, o poeta es...
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