Sinopse
José Artur Giannotti questiona os fundamentos éticos, lógicos e discursivos da política a partir da gramática dos jogos de linguagem que estruturam a subjetividade e a vida em comum, dialogando com diferentes tradições filosóficas.
O vir a ser contraditório da política é o tema central deste instigante ensaio de intervenção de José Artur Giannotti. Rigorosamente ancorado na história da filosofia mas voltado para o calor dos acontecimentos do presente, o professor e pesquisador paulista coloca em xeque as categorias lógicas que vêm amparando a prática e a reflexão política por meio de uma criteriosa análise conceitual. Partindo de Aristóteles, que encabeça uma seleta galeria de pensadores, Giannotti promove uma necessária reavaliação das figuras discursivas que fundamentam as noções de verdade, ética e justiça propagadas a partir do Iluminismo e da Revolução Francesa. Para Aristóteles, a comunidade na polis grega se define como a união de cidadãos para a obtenção da felicidade e do bem coletivo. Essa definição básica, considerada um dos momentos fundadores da democracia, no entanto exclui da coletividade de cidadãos com poder político a grande massa de escravos que sustentava a civilização helênica. Como destaca Giannotti, a democracia à qual Aristóteles se refere na Política basicamente marginalizava estimados 50% da população ateniense. Assim, a contradição discursiva inerente à regulação ética dos confrontos sociais passa desde os primórdios da filosofia pelos jogos de linguagem e lugares de enunciação que configuram a convivência, violenta ou pacífica, entre classes sociais antagonistas num determinado corpo político. O livro examina o tratamento dado a essa questão por pensadores tão distintos como Jean-Jacques Rousseau e Carl Schmitt, Michel Foucault e Thomas Hobbes.