Sinopse
"Que diga o mundo o que quiser, mas os que nasceram ali limitam a convivência entre os iguais. Os outros cultivam a cumplicidade como meio de sobrevivência. Deus, porém, é quem decide tudo". O trecho é quase um bordão deste livro e resume muito do seu clima mental, desenhando o cenário encontrado por ocidentais que vão à busca de enriquecimento no Golfo Pérsico.
O que se esconde por trás da intolerância e o porquê de a verdade revelada de uma religião, para outra não passar de um mito, são dilemas narrados por dois personagens, ao primeiro olhar, radicalmente opostos. De um lado, Aurora, uma mulher brasileira, morando na Arábia Saudita, que tenta tornar a coexistência de estrangeiros ocidentais, moradores do condomínio que administra, em algo pacífico. Ao mesmo tempo, procura resguardar esses estrangeiros dos perigos de desafiar as leis muçulmanas. Do outro lado Hasan, um menino saudita com o estranho costume de colecionar palavras difíceis; procurando seguir as leis islâmicas, mas, interiormente, duvidando da validade de algumas delas, principalmente por conviver com sua mãe, Salmà, uma mulher com sede de saber e de experiências diferentes daquelas às que sua cultura a "condena".
Numa narrativa que mistura delicadeza com dor e brutalidade, amor e violência, e um texto que evidencia uma exaustiva e bem sucedida pesquisa, Palavras de Arame concentra em suas páginas um panorama impactante das leis não escritas dos costumes e dos estatutos infalíveis do ser humano. Mostra a capacidade do indivíduo de ser intolerante e cruel com o próximo, pelos mais variados motivos, mas sempre devido às diferenças que tornam o "outro" um "estrangeiro" indigno de confiança e de solidariedade, um outro que pode ser o árabe ou o nosso semelhante mais próximo.