Sinopse
Este livro explica que Maquiavel, ao contrário do que ainda se lê pelo Brasil, não foi maquiavélico, não foi um "professor do mal", mas um "pensador do mal", nunca escreveu que fins justificam meios, nunca defendeu a manutenção do poder a qualquer custo. É um autor complexo e, como autores complexos, vítima de simplificações redutivas e de algumas traduções levianas de sua obra em língua portuguesa. Maquiavel, sobretudo em O Príncipe, é um pensador preocupado com a "verdade efetiva da coisa", e não com "a imaginação que se tem sobre ela". Maquiavel manifesta em O Príncipe uma preocupação metodológica, descritiva das coisas sociais. Busca a compreensão do que Émile Durkheim chamará de fato social. Para Bento, Maquiavel é o pesquisador do fato político, coisa política, que separa a idealidade da realidade da coisa política. Neste ponto, ele identifica intenções metodológicas semelhantes entre Maquiavel e Durkheim, em seu livro As Regras do Método Sociológico (1895). Maquiavel preocupa-se com a construção da ordem política de uma Itália ainda não unificada. Para ele, um príncipe deve construir e manter a ordem política, mas não afirma que isso deva ser a qualquer custo. Identifica a complexidade de tal tarefa que se realiza no caldeirão dos valores morais tradicionais. Este, porém, não é um livro somente sobre Maquiavel, mas sobre o método específico que se identifica com a própria sociologia no estudo da sociedade moderna. Um livro que destaca a centralidade e complexidade dos fatos sociais e as conexões que os fatos criam entre si (conexões fáticas). Um livro com reflexões sobre fatos em forma de conflitos sociais (Karl Marx), anomia (Émile Durkheim), racionalização (Max Weber).